Mexe, remexe, rebola é tambor de crioula
A ginga descente envolvente é tambor de crioula
É sensualidade pura, não da pra segurar
Faz qualquer tristeza se alegrar
Chega mais pra cá, chega pra sambar
Mostra todo o seu gingado
Faz nego babar, quando rebolar
Quero ver seu requebrado
O Terreiro na palma da mão
De cavaco, tantan, violão
Quero ver ferver...
Quero ver ferver, o tambor de crioula
ê ê ê.. criooula.. criooula.. (crioula)
criooulaaaaa.. criooula
http://www.youtube.com/watch?v=zH1ktOV3l6Y
O Tambor de Crioula, dança inventada pelos negros que fugiam para o mato, fugindo do regime de escravidão, cantavam e dançavam para se divertir. Hoje é praticada e produzida por descendentes de negros e simpatizantes, incorpora às práticas do catolicismo tradicional e da religiosidade afro-maranhense, mas não é uma dança de cunho exclusivamente religioso, como o Tambor de Mina, com o qual muitas vezes foi confundido.
É, sobretudo uma forma de diversão de uma das classes sociais mais populares, uma expressão de resistência cultural dos negros e de seus descendentes no Maranhão.
São vários os motivos pelos quais se realiza um Tambor de Crioula: pagamento de promessa, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, nascimento de uma criança, morte do bumba-meu-boi, carnaval, festa junina, ano novo etc.
No que diz respeito ao pagamento de promessa, o Tambor de Crioula é oferecido ao santo, especialmente à São Benedito, um santo negro, indispensável, na festa de devoção particular, a presença da imagem do santo, colocado num altar, preparado próximo ao local da dança. O santo também participa da dança, sendo em certos momentos carregado nos braços ou colocado na cabeça das mulheres.
Ainda na dança, destaca-se a presença de vibrantes formas de expressão corporal, apresentadas principalmente pelas mulheres, em movimentos encantadores e harmoniosos, ressaltando cada parte do corpo, como cabeça, ombros, braços, cintura, quadris, pernas e pés. As coreiras (denominação das dançantes) preenchem metade do círculo e a outra metade é ocupada pelos coureiros (tocadores). Dentro da roda, não existe pessoa determinada para iniciar a dança. Entra uma careira de cada vez, enquanto as outras esperam sua vez de entrar. No centro da roda, os movimentos são livres, mais intensos e bem acentuados. Ao entrar, cada coreira mostra seu estilo, sua forma de dançar, de “pungar” outra coreira.
A punga é muito importante na dança, é vista com respeito, principalmente pelos brincantes mais antigos. Tem vários significados: entre as mulheres, se caracteriza como convite para entrar na roda. Quando a coreira que está dançando no centro da roda e quer ser substituída, avança em direção a outra coreira aplicando-lhe a punga, que, por sua vez, entra na roda para dar continuidade à dança. A punga é dada de várias maneiras: no abdome, nas coxas, no pé da barriga e outros, variando de coreira para coreira.
O Tambor de Crioula é composto por três tambores: tambor grande (roncador ou rufador), tambor do meio ou meião (socador ou chamador) e o tambor pequeno ou crivador (pererengue ou merengue), sendo feitos de canos ou da mesma qualidade da madeira, a saber: mangue, soró, pau-d`arco, angelim, faveira, mescla etc. O couros dos tambores são esquentados ao redor de uma fogueira, para a afinação correta dos seus próprios tocadores. Há também a matraca, que são dois pedaços de madeira tocada no comprimento do tambor grande.
O Tambor de Crioula é tão antigo quanto a arquitetura das casas e casarões do centro histórico de São Luís. Até meados da década de 1950, as manifestações culturais no Maranhão eram marginalizadas pela sociedade dominante, sendo a prática delas no espaço urbano proibida pela polícia, que fazia acusações de feitiçaria, pajelança e desordem, evidenciando claramente a ampla difusão de preconceitos da sociedade contra manifestações populares.
Fonte: FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Tambor de Crioula: ritual e espetáculo. São Luís: Comissão Maranhense de Folclore (SECMA) Lithograf, 1995.
Bjs e até a próxima!